Golpe de R$ 6 bi no INSS revela falha no controle de associações

Operação da PF expõe fraudes de entidades que descontavam valores indevidos de aposentados sem autorização e levanta questionamentos sobre a fiscalização do INSS.

Golpe de R$ 6 bi no INSS revela falha no controle de associações
Golpe de R$ 6 bi no INSS revela falha no controle de associações (Foto: Reprodução)

A Polícia Federal deflagrou uma das operações mais relevantes dos últimos anos, investigando fraudes cometidas por entidades que se apresentavam como associações de aposentados e pensionistas. Segundo a PF, essas associações realizavam descontos indevidos nos benefícios do INSS, sem autorização dos segurados, entre 2019 e 2024. O prejuízo estimado chega a R$ 6 bilhões. A gravidade do caso levou o diretor-geral da PF e o ministro da CGU a comunicarem pessoalmente o presidente Lula. Os crimes investigados incluem corrupção, falsificação de documentos e organização criminosa. A operação atinge aposentados de estados como São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco, entre outros. 


 Fonte – Fernanda Fortes, advogada previdenciária


 “Essas fraudes, apesar de terem estourado agora com essa operação, já estão bem recorrentes desde 2023. Elas não afetam diretamente os pedidos de benefícios, mas sim o recebimento.”


 Falha no controle das associações


“O pior é que são cerca de trinta associações que devem ser obrigatoriamente habilitadas pelo próprio INSS. Ou seja, deveriam ser verificadas por eles. Sendo poucas associações, não deveria ser difícil controlar e garantir que sejam idôneas. Tem associação até em nome de laranja, então a gente já vê o absurdo e a falta de fiscalização.”


 Descontos 


“Os descontos são razoavelmente baixos – às vezes 20, 30 reais por mês, alguns mais altos, de uns 70 ou 80 – então a pessoa não percebe tão rápido. Acha que é algum imposto. Ela não tem conhecimento do que é aquilo e acaba deixando.


Só que aí você junta 30 reais por mês de milhares de brasileiros e 6 bilhões se foram.


Acho que a questão é muito mais política mesmo nesse caso, porque foi um dinheiro desviado direto dos segurados. Mas alguém vai ter que arcar com isso para devolver.”



Cancelamento e recuperação


 

“No Meu INSS você consegue, de forma bem simples, até fazer o pedido de cancelamento e não precisa comprovar nada, eles cancelam.


Mas o que ficou para trás de desconto é bem mais problemático. Você tem que pedir direto nas associações, que exigem que você mande um monte de documentos pessoais, às vezes até foto sua do lado do documento. E é tudo que precisam para outras fraudes.


Aí já te deram golpe, você vai terminar de mandar documento para eles? É complicado.”



Vazamento de dados 


“Aí você vê o nível do vazamento de dados das pessoas, que vivem tomando golpe. 


Até dos advogados, porque todo dia tem algum golpista tentando usar nosso nome para entrar em contato com os clientes, falar que saiu resultado do processo.


Como eles têm esses acessos? Não tem segurança nem no INSS, nem na Justiça.”


 

Contradições e prioridades


 

“E o INSS fala que não tem dinheiro para pagar os aposentados, faz reforma da previdência, dá um jeito de cancelar a Revisão da Vida Toda.


A Revisão da Vida Toda iria custar menos do que esses 6 bilhões. E é um dinheiro literalmente roubado do segurado.


Tanto que os dados apurados são de 2019 a 2025, mas realmente a maioria é de 2023 para frente.”


Operação da PF expõe fraudes de entidades que descontavam valores indevidos de aposentados sem autorização e levanta questionamentos sobre a fiscalização do INSS.


Fernanda Fortes é advogada especialista em Direito Previdenciário e sócia do Fernanda Fortes Advocacia


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